Solta o som!
novembro 28, 2005
O suicida e o computador
Depois de fazer o laço da forca e colocar uma cadeira embaixo, o escritor sentou-se atrás da sua mesa de trabalho, ligou o computador e digitou:
"No fundo, no fundo, os escritores passam o tempo todo redigindo a sua nota de suicida. Os que se suicidam mesmo são os que a terminam mais cedo."
Levantou-se, subiu na cadeira sob a forca e colocou a forca no pescoço. Depois, retirou a forca do pescoço, desceu da cadeira, voltou ao computador e apagou o segundo "no fundo". Ficava mais enxuto. Mais categórico. Releu a nota e achou que estava curta. Pensou um pouco, depois acrescentou:
"Há os que se suicidam antes para escapar da terrível agonia de encontrar um final para a nota. O suicídio substitui o final. O suicídio é o final."
Levantou-se, subiu na cadeira, colocou a forca no pescoço e ficou pensando. Lembrou-se de uma frase de Borges. Encaixa, pensou, retirando a corda do pescoço, descendo da cadeira e voltando ao computador. Digitou:
"Borges disse que o escritor publica seus livros para livrar-se deles, senão passaria o resto da vida reescrevendo-os. O suicídio substitui a publicação. O suicídio é a publicação. No caso, o livro livra-se do escritor."
Levantou-se, subiu na cadeira, mas desceu da cadeira antes de colocar a forca no pescoço. Lebrara-se de outra coisa. Voltou ao computador e, entre o penúltimo e o último parágrafo, inseriu:
"Há escritores que escrevem um grande livro, ou uma grande nota de suicida, e depois nunca mais conseguem escrever outro. Atribuem a um bloqueio, ao medo do fracasso. Não é nada disso. É que escreveram a nota, mas esqueceram de suicidar-se. Passam o resto da vida sabendo que faltou alguma coisa na sua obra e não sabendo o que é. Faltou o suicídio."
Levantou-se, ficou olhando a tela do computador, depois sentou-se de novo. Digitou:
"No fundo, no fundo, a agonia é saber quando se terminou. Há os que não sabem quando chegaram ao final da sua nota de suicida. Geralmente, são escritores de uma obra extensa. A crítica elogia sua prolixidade, a sua experimentação com formas diversas. Não sabe que ele não consegue é terminar a nota."
Desta vez não se levantou. Ficou olhando para a tela, pensando. Depois acrescentou:
"É claro que o computador agravou a agonia. Talvez uma nota de suicida definitiva só possa ser manuscrita ou datilografada à moda antiga, quando o medo de borrar o papel com correções e deixar uma impressão de desleixo para a posteridade leva o autor a ser preciso e sucinto. Tese: é impossível escrever uma nota de suicida num computador."
Era isso? Ele releu o que tinha escrito. Apagou o segundo "no fundo". Era iso. Por via das dúvidas, guardou o texto na memória do computador. No dia seguinte o revisaria. E foi dormir.
(crônica de Luís Fernando Veríssimo, e eu garanto que é!)
"No fundo, no fundo, os escritores passam o tempo todo redigindo a sua nota de suicida. Os que se suicidam mesmo são os que a terminam mais cedo."
Levantou-se, subiu na cadeira sob a forca e colocou a forca no pescoço. Depois, retirou a forca do pescoço, desceu da cadeira, voltou ao computador e apagou o segundo "no fundo". Ficava mais enxuto. Mais categórico. Releu a nota e achou que estava curta. Pensou um pouco, depois acrescentou:
"Há os que se suicidam antes para escapar da terrível agonia de encontrar um final para a nota. O suicídio substitui o final. O suicídio é o final."
Levantou-se, subiu na cadeira, colocou a forca no pescoço e ficou pensando. Lembrou-se de uma frase de Borges. Encaixa, pensou, retirando a corda do pescoço, descendo da cadeira e voltando ao computador. Digitou:
"Borges disse que o escritor publica seus livros para livrar-se deles, senão passaria o resto da vida reescrevendo-os. O suicídio substitui a publicação. O suicídio é a publicação. No caso, o livro livra-se do escritor."
Levantou-se, subiu na cadeira, mas desceu da cadeira antes de colocar a forca no pescoço. Lebrara-se de outra coisa. Voltou ao computador e, entre o penúltimo e o último parágrafo, inseriu:
"Há escritores que escrevem um grande livro, ou uma grande nota de suicida, e depois nunca mais conseguem escrever outro. Atribuem a um bloqueio, ao medo do fracasso. Não é nada disso. É que escreveram a nota, mas esqueceram de suicidar-se. Passam o resto da vida sabendo que faltou alguma coisa na sua obra e não sabendo o que é. Faltou o suicídio."
Levantou-se, ficou olhando a tela do computador, depois sentou-se de novo. Digitou:
"No fundo, no fundo, a agonia é saber quando se terminou. Há os que não sabem quando chegaram ao final da sua nota de suicida. Geralmente, são escritores de uma obra extensa. A crítica elogia sua prolixidade, a sua experimentação com formas diversas. Não sabe que ele não consegue é terminar a nota."
Desta vez não se levantou. Ficou olhando para a tela, pensando. Depois acrescentou:
"É claro que o computador agravou a agonia. Talvez uma nota de suicida definitiva só possa ser manuscrita ou datilografada à moda antiga, quando o medo de borrar o papel com correções e deixar uma impressão de desleixo para a posteridade leva o autor a ser preciso e sucinto. Tese: é impossível escrever uma nota de suicida num computador."
Era isso? Ele releu o que tinha escrito. Apagou o segundo "no fundo". Era iso. Por via das dúvidas, guardou o texto na memória do computador. No dia seguinte o revisaria. E foi dormir.
(crônica de Luís Fernando Veríssimo, e eu garanto que é!)
novembro 24, 2005
novembro 13, 2005
Muito Além do Cidadão Kane
Então... esse documentário proibído "Muito Além do Cidadão Kane" ta rolando na internet desde o ano passado :)
É um documentário da BBC que fala sobre o império do ex-magnata-já-falecido Roberto Marinho e da sua Rede Globo e que foi censurado no Brasil na época que foi lançado.
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/08/260618.shtml
Pra baixar direto do Site... :)
É um documentário da BBC que fala sobre o império do ex-magnata-já-falecido Roberto Marinho e da sua Rede Globo e que foi censurado no Brasil na época que foi lançado.
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/08/260618.shtml
Pra baixar direto do Site... :)
novembro 03, 2005
Jovem Lecter
Imaginar o que aconteceu a um jovem chamado Hannibal Lecter para que ele virasse um sociopata já passou muitas vezes pela minha cabeça e eu, como alguns sabem, sou uma curiosa incurável. 
Recebi essa notícia fresquinha por e-mail e ia reenviar mas decidi postar aqui.
Minhas preces foram atendidas.
Thomas Harris, o criador de Il Mostro, o vilão número 1 no TOP 10 do site Cineblog, decidiu escrever sobre a infância e adolescência do jovem Canibal.
Aproveitando o gancho, que em Hollywood ninguém dorme, já estão rodando o filme na República Tcheca.
O rapaz que fará o papel de Lecter quando jovem é francês, Gaspard Ulliel, meio desconhecido, com uma certa experiência em TV, o que não o desabona em nada, porém esperemos que ele esteja à altura do Grande Hopkins.
Dos filmes que ele fez, só assisti O pacto dos Lobos, com Mark Dacascos e não gostei de Eterno Amor, com a maravilhosa e sempre Amelie, Audrey Tautou, apesar dela, achei cansativo.
Acompanhe aqui mais notícias.
Estou ouvindo Vide Cor Meun - Hannibal Soundtrack.
Recebi essa notícia fresquinha por e-mail e ia reenviar mas decidi postar aqui.
Minhas preces foram atendidas.
Thomas Harris, o criador de Il Mostro, o vilão número 1 no TOP 10 do site Cineblog, decidiu escrever sobre a infância e adolescência do jovem Canibal.
Aproveitando o gancho, que em Hollywood ninguém dorme, já estão rodando o filme na República Tcheca.
O rapaz que fará o papel de Lecter quando jovem é francês, Gaspard Ulliel, meio desconhecido, com uma certa experiência em TV, o que não o desabona em nada, porém esperemos que ele esteja à altura do Grande Hopkins.
Dos filmes que ele fez, só assisti O pacto dos Lobos, com Mark Dacascos e não gostei de Eterno Amor, com a maravilhosa e sempre Amelie, Audrey Tautou, apesar dela, achei cansativo.
Acompanhe aqui mais notícias.
Estou ouvindo Vide Cor Meun - Hannibal Soundtrack.
