Solta o som!
dezembro 31, 2004
  Um ano mais
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um individuo genial; industrializou esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos; aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com vontade de acreditar que daqui por diante vai ser diferente.

(Carlos Drummond de Andrade)

Meu sincero desejo é que os leitores (e produtores) desse blog tenham um ano bem melhor que os simples mortais.
 
dezembro 18, 2004
  Aniversário da Vampirah!
Aee!

E hoje temos uma aniversariante no blog!

Tenho orgulho de falar que conheço a vamp. Nunca paguei tanto pau pra ela quando vi algumas discussões dela lá no iRC. São raras as pessoas que realmente tem algum argumento (argumento que preste) numa discussão.

Parabéns Maetê, pela pessoa que tu és, pela cabeça que você tem e que tudo de bom venha acontecer nesse dia e em todos os outros.

Feliz aniversário e muitos anos de vida pela frente!

São os meus votos e os votos de todo o pessoal do blog.
 
dezembro 14, 2004
  Meninas lobo
AMALA E KAMALA

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.
Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre. Comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra. Eram ativa e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam.
Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Necessitou de seis anos para aprender a andar e, pouco antes de morrer, tinha um vocabulário de apenas cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela bem como às outra com as quais conviveu. Sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples”.

(LEYMOND, B. Le development social de l’enfant et del’adolescent. Bruxelles: Dessart, 1965. p 12-14.)

Lendo "O livro da Selva", de Rudyard Kipling, lembrei-me de um artigo que li a muitos anos e resolvi procurá-lo novamente, o caso de Amala e Kamala.
Me surpreendeu, na época, o fato de na Índia os casos de crianças criadas por lobos terem sido numerosos.
Foi provavelmente de onde Kipling tirou suas idéias para as histórias de Mowgli.
Diferente das meninas, Mowgli anda ereto, aprende a falar um pouco da língua dos homens, usa uma faca e, por fim, procura no convívio humano uma esposa.

Me chamou a atenção, mais do que tudo, o fato de uma alcatéia criar seres de uma espécie diferente da deles (e não apenas uma vez, já que casos assim são numerosos, certo?) e nós, humanos, que temos a chamada "racionalidade", matarmos a torto e à direito, não só outras espécies, como a nossa.

Estou ouvindo Dido - My Lover's Gone.
 
dezembro 13, 2004
  Digamos
Digamos que eu ande meio emputecida com pessoas que, agora eu vejo, não passavam de lobos fora de seus covis.

Amigos são a família que você mesmo se dá de presente, certo?
Então escolha beeemmmmmmm!!!!!!

Volto a ser Vampirah, noctívaga, abusada e realista.

Tenho dito.

Estou ouvindo Julian Lennon - Too Late For Goodbyes
 
dezembro 09, 2004
  Eu e o ateísmo
Começo primeiramente que, desde que me conheço por gente, a palavra "ateísmo" só veio me trazer um significado importante à partir dos 10 anos de idade, se não me engano. Por ironia do destino, justamente quando eu ainda estudava no Colégio Sagrado Coração de Jesus (não, não é uma piada...).

Acho que fui começar a ter pensamentos ateístas por ler a bíblia. Achava as histórias bestas e irreais demais. Algo como folhear um livro de uma história de ficção. Eu não tinha uma intepretação como tenho hoje, mas, já era um começo. Lembro também que a sensação que tinha ao rezar era vazia. Resumindo, era como se eu rezasse para o ar. Ou mais precisamente, pro teto.

Isso tudo veio como uma forma de um estalo de dedos no tempo. Tipo aquele estalo que o hipnotizador dá quando a pessoa deve acordar. Algo me dizia que tudo aquilo não passava de charlatanismo e eu estava prestes a virar mais um bobo da vida. À partir de então, começei a deixar a vida religiosa (curta vida religiosa) de lado.

Não vou falar de imediato que foi algo estupendo à curto prazo. Como todo bom ateísta e agnóstico deve saber, falar que você não participa de uma religião é como falar numa roda de estudantes populares que você não fuma e não bebe nenhum tipo de bebida alcoólica. É visto com olhos de herege. Ser inferior, pagão e parado no tempo.

À longo prazo posso dizer sim que foi algo muito bom pra mim. Digo isso com muito orgulho pelo motivo de hoje, eu pegar jornais, revistas e ver manchetes na TV sobre religião e as vezes ficar abismado e aliviado por não participar de certos grupos. Fui percebendo que nenhuma religião, exceto talvez pelo budismo, consegue se safar de participar da política e de mexer com dinheiro. Algo extremamente contraditório já que 99,9% das religiões pregam que seu seguidor tenha preferência ao espiritual e não ao material.

Conversando com um colega meu sobre religião, ele comenta comigo que assistiu uma certa vez na televisão o seguinte anúncio:

"Ganhar dinheiro é um dom divino. Venha participar do nosso culto e aprenda a como utilizar esse dom. Cultos nas cidades de Birigui e Araçatuba. *nome da igreja*"

Do muito que já li da Bíblia, nunca vi ou ouvi alguém me falar de alguma passagem onde Jesus, Deus ou outro ser superior qualquer tenha inventado o sistema monetário e dado à um de seus discípulos o "dom da administração".

A Bíblia. A Bíblia, Alcorão e outros tantos livros sagrados de religiões. Foi por ela que começei a entender e felizmente a me desprender das religiões e suas crenças. Tantas histórias, tantas regras impostas e tanta ficção tão bem boladas e escritas que cegam quem não tiver o mínimo de senso crítico. Não consigo colocar confiança em algo que foi escrito a poucos anos da morte de cristo. Não há como garantir que toda informação contida ali não foi deturpada.

O ateísmo na minha vida significa eu ter voltado à estaca zero daquele período de "aceitação" de alguma religião. Afinal, se todos nós nascemos ateus, por quê então negar a origem? Já que tenho a total liberdade de experessão e pensamento, posso muito bem desejar sair de um conjunto que não gosto. Conjunto esse que contém pessoas, ideologias, prega comportamentos e exige fidelidade. Eu estou aqui no meu mundo ateísta. E isso não significa que estou parado e esperando surgir uma nova religião que me atraia. Estou aqui por uma questão de defesa. Por quê tenho que acreditar que existe algo superior a mim? Por quê devo aceitar que o que se fala num livro é certo? Se um ser superior existe, por quê não aparece? Existe algum medo de ser rejeitado pelas suas criações?

Dez anos exatos de vida ateísta e posso dizer com todas as palavras e letras: nunca me senti tão bem sendo um ateísta como me sinto hoje.

Antes um ateu "surdo" que um religioso "cego".

Esse post terá uma continuação
 
dezembro 05, 2004
  Mentiras sinceras
 
dezembro 03, 2004
  O nascimento de uma língua
Ao estudar uma nova linguagem de sinais desenvolvida por crianças surdas da Nicarágua, lingüistas afirmam ter confirmado a existência de mecanismos universais que facilitam a aquisição de uma língua, seja ela falada ou não. Os resultados somam-se a várias outras evidências de que crianças possuem habilidades inatas capazes de dar à linguagem sua estrutura fundamental. O artigo foi publicado na revista Science em 17 de setembro de 2004.

Como falariam crianças naufragadas em uma ilha deserta que cresceram sem pais que lhes pudessem ensinar uma língua? Considerando-se a linguagem como uma invenção cultural passada de geração em geração, a resposta seria que essas crianças infortunadas não falariam língua alguma. As tábulas rasas de suas mentes não poderiam ser preenchidas com uma língua. Talvez, conseguissem comunicar-se com berros e grunhidos, mas nunca chegariam a utilizar algo tão sofisticado como uma língua natural, correto? Resposta: não. E vejamos por quê.

Primeiramente, vale perguntar: como saberíamos que nossas crianças não se degradariam ao nível de babuínos? Mesmo não podendo, por óbvias razões éticas, fazer um experimento desse gênero em alguma ilha do Pacífico, temos bastante certeza de que elas estariam aptas a inventar uma língua tão expressiva como qualquer outra existente hoje. Uma forte evidência nesse sentido vem agora de uma comunidade que, em circunstâncias semelhantes, sem ouvir palavras, elaborou uma língua natural própria, começando do nada.

Nos últimos 25 anos, surgiu na Nicarágua uma língua completa, o Idioma Nicaragüense de Sinais – ou ISN, do espanhol, Idioma de Signos Nicaragüense –, inventado por crianças surdas daquele país. Essa invenção foi descrita por Ann Senghas, da Universidade Colúmbia (Estados Unidos), Sotaro Kita, da Universidade de Bristol (Reino Unido), e Asli Özyürek, da Universidade de Nijmegen (Holanda). Esse grupo de lingüistas estudou essa comunidade nicaragüense e observou como os surdos exprimiam informações sobre objetos em movimento.

O ISN é uma língua que apareceu no início da década de 1980, quando surdos nicaragüenses – após longos anos de tentativas fracassadas de ensinar a eles o espanhol utilizando para isso instrutores sem deficiência auditiva – foram finalmente juntados com outros surdos. Uma vez reunidos em grupos, eles começaram a utilizar algo que, no início, se parecia com um sistema pantomímico imperfeito que usamos quando queremos nos comunicar sem palavras. Mas esse sistema cru logo se transformou em uma verdadeira língua: as crianças surdas que chegavam àquelas comunidades aprendiam o sistema e acabavam aperfeiçoando-o com regras lingüísticas.

É preciso enfatizar aqui que é falsa – apesar de disseminada – a noção de que línguas de sinais sejam sistemas primitivos, inferiores às línguas faladas. Os sinais não são meros gestos mímicos que podem ser decifrados por observadores não familiarizados com essas línguas. Embora a versão inicial do ISN utilizasse gestos gráficos que simplesmente imitavam a forma de objetos ou movimentos, as crianças expostas a esse sistema mudaram-no, decompondo os gestos em elementos menores que já não tinham esse valor imitativo. Esses sinais, bem como as regras que os combinam em longas frases, são exatamente tão obscuros para não iniciados como seria, por exemplo, o finlandês para quem nunca o tenha aprendido.

No estudo de Senghas e colegas, os participantes viam um filme animado cujo enredo eles tinham depois que contar com o uso de sinais. O filme mostrava um gato que engole uma bola de boliche e cai tombando por uma ruela íngreme. Os surdos que utilizavam a primeira versão do sistema mostravam a queda do gato com a mão literalmente traçando um percurso espiral para baixo. Já as crianças que usavam a versão aperfeiçoada do ISN exprimiam a mensagem com dois sinais separados, um com o sentido ’para baixo’ e outro que significava ’rolando’.

Os autores do estudo sugerem que essa divisão da mensagem em modo e direção pode ser uma das características universais da linguagem humana. A maioria das línguas aproveita essa divisão e exprime esses dois fragmentos de mensagem com duas palavras separadas (’O gato desce rolando’). O interessante é que as crianças, ao aprenderem o ISN, não foram ’ensinadas’ sobre esse fato. Foram elas mesmas que desenvolveram essa e outras características para o ISN, enriquecendo, assim, o sistema que receberam e que ainda não era uma língua completa.

Lingüistas acreditam que a divisão direção-modo é um dos elementos que compõem o conhecimento inato que facilita a aquisição de uma língua, seja ela falada, seja de sinais. Há quem sugira que, sem esse conhecimento, nem mesmo seria possível adquirir qualquer língua. Segundo o lingüista norte-americano Noam Chomsky, essa capacidade inata para a aprendizagem de uma língua reside no chamado dispositivo de aquisição de linguagem, parte do cérebro que se atrofia com a idade. Não podendo contar com o apoio desse dispositivo, pessoas adultas que aprendem línguas estrangeiras têm dificuldades em assimilar os detalhes da gramática. Assim, aprendizes estrangeiros com pouca competência na gramática portuguesa podem não ver muita diferença entre as frases ’O bispo voltou a se divertir’ e ’O bispo voltou sem se divertir’.

Analogamente, os pais que aprendem ISN para poder conversar com seus filhos surdos nunca chegam ao nível de falante materno e, aos olhos dos surdos, cometem erros semelhantes àqueles que estrangeiros costumam cometer ao tentar falar, por exemplo, o português.
O excelente trabalho de Senghas e colegas não só mostra algo que pode ser um ingrediente básico de nossa linguagem, mas também capta um momento no qual ele é acrescentado à sopa primordial no nascimento espontâneo de uma língua humana.

(por Konrad Szczesniak, Faculdade de Língua Inglesa, Universidade da Silésia – Polônia).
Extraído da revista Ciência Hoje de novembro de 2004 e descaradamente copiado do Birigui Blues.

Estou ouvindo Angra - Wuthering Heights.
 
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