Solta o som!
junho 26, 2004
  Um dia de merda
Luis Fernando Veríssimo (verídico)

Você acha seu dia às vezes difícil? Então leia
este fato verídico.

Aeroporto Santos Dumont, 15:30. Senti um pequeno mal estar causado por uma
cólica intestinal, mas nada que uma urinada ou uma barrigada não aliviasse.
Mas, atrasado para
chegar ao ônibus que me levaria para o Galeão, de onde partiria o vôo para
Miami,
resolvi segurar as pontas. Afinal de contas são só uns 15 minutos de
busão.
"Chegando lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta,
tranqüilo." O avião só sairía às 16:30.

Entrando no ônibus, sem sanitários. Senti a primeira contração e tomei
consciência de que minha gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um
parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do aeroporto. Virei para o
meu amigo que me acompanhava e, sutil falei: "Cara, mal posso esperar para
chegar na merda do aeroporto porque preciso largar um barro.

"Nesse momento, senti um urubu beliscando minha cueca, mas botei a força
de vontade para trabalhar e segurei a onda. O ônibus nem tinha começado a
andar quando, para meu desespero, uma voz disse pelo alto falante:
"Senhoras e senhores, nossa viagem entre os dois aeroportos levará em torno
de 1 hora, devido a obras na pista. "Aí o urubu ficou maluco
querendo sair a qualquer custo. Fiz um esforço hercúleo para segurar o
trem merda que estava para chegar na estação anus a qualquer momento.

Suava em bicas. Meu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou
para tirar um sarro. O alívio provisório veio em forma de bolhas
estomacais, indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se
acomodado. Tentava me distrair vendo TV, mas só conseguia pensar em um
banheiro, não com uma privada, mas com um vaso sanitário tão branco e tão
limpo que alguém poderia botar seu almoço nele. E o papel higiênico então:
branco e macio, com textura e perfume e, ops, senti um volume almofadado
entre meu traseiro e o assento do ônibus e percebi, consternado, que havia
cagado.

Um cocô sólido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor.
Daqueles que dá vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los a
apreciar na privada. Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal. Mas
sem duvida, a situação tava tensa. Olhei para o meu amigo, procurando um
pouco de piedade, e confessei sério:
"Cara, caguei.". Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois,
aconselhou-me a relaxar, pois agora estava tudo sob controle.
"Que se dane, me limpo no aeroporto."
- pensei: "Pior que isso não fico".

Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Arregalei os
olhos, segurei-me na cadeira mas não pude evitar, e sem muita cerimônia ou
anunciação, veio a segunda leva de merda. Desta vez, como uma pasta morna.
Foi merda para tudo que é lado, borrando, esquentando e melando a bunda,
cueca, barra da camisa, pernas, panturrilha, calças, meias e pés. E mais
uma cólica anunciando mais merda, agora líqüida, das que queimam o fiofó do
freguês ao sair rumo a liberdade. E depois um peido tipo bufa, que eu nem
tentei segurar. Afinal de contas, o que era um peidinho para quem já
estava todo cagado...
Já o peido seguinte, foi do tipo que pesa.

E me caguei pela quarta vez. Lembrei de um amigo que certa vez estava com
tanta caganeira que resolveu botar modess na cueca, mas colocou as linhas
adesivas viradas para cima e quando foi tirá-lo levou metade dos pêlos do
rabo junto. Mas era tarde demais
para tal artifício absorvente. Tinha menstruado tanta merda que nem uma
bomba de cisterna poderia me ajudar a limpar a sujeirada. Finalmente
cheguei ao aeroporto e saindo apressado com passos curtinhos, supliquei ao
meu amigo que apanhasse minha mala no bagageiro do ônibus e a levasse ao
sanitário do aeroporto para que eu pudesse trocar de roupas.

Corri ao banheiro e entrando de boxe em boxe, constatei falta de papel
higiênico em todos os cinco. Olhei para cima e blasfemei: "Agora chega,
né?" Entrei no último, sem papel mesmo, e tirei a roupa toda para analisar
minha situação (que concluí como sendo o fundo do poço) e esperar pela
minha salvação, com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela uma lufada de
dignidade no meu dia. Meu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito
o "check-in" e ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do boxe o
cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto
de minha parte. "Ele tinha despachado a mala com roupas". Na mala de mão só
tinha um pulôver de gola "V". A temperatura em Miami era de aproximadamente
35 graus.

Desesperado comecei a analisar quais de minhas roupas seriam, de algum
modo, aproveitáveis. Minha cueca, joguei no lixo. A camisa era história. As
calças estavam deploráveis e assim como minhas meias, mudaram de cor
tingidas pela merda. Meus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10.
Teria que improvisar. A invenção é mãe da necessidade, então transformei
uma simples privada em uma magnífica máquina de lavar. Virei a calça do
lado avesso, segurei-a pela barra, e mergulhei a parte atingida na água.
Comecei a dar descarga até que o grosso da merda se desprendeu. Estava
pronto para embarcar. Saí do banheiro e atravessei o aeroporto em direção
ao portão de embarque trajando sapatos sem meias, as calças do lado avesso
e molhadas da cintura ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola
"V", sem camisa. Mas caminhava com a dignidade de um lorde. Embarquei no
avião, onde todos os passageiros estavam esperando o "RAPAZ QUE ESTAVA NO
BANHEIRO" e atravessei todo o corredor até o meu assento, ao lado do meu
amigo que sorria.

A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de algo. Eu cheguei a
pensar em pedir 120 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa
transbordante e uma gilete para cortar os pulsos, mas decidi não pedir:
"Nada, obrigado." Eu só queria esquecer este dia de merda.
 
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