Solta o som!
outubro 01, 2004
  O Pequeno Príncipe
Durante anos, O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, causava-me estranheza pelo simples fato de ser livro de cabeceira de misses.
Um dia engoli o orgulho e a curiosidade e resolvi lê-lo.

Hoje o indico quando alguém me pergunta: o que você me recomenda para ler?
Me faz ver o caráter de quem pede a recomendação. Se resmunga e diz que eu estou a brincar com sua cara, com certeza não queria indicação nenhuma, queria mostrar uma suposta erudição que não possui.
Se acata a idéia, é dos que realmente gostam da leitura; se leu e achou bobo, carece de profundidade e se leu e não só entendeu, como gostou, é dos que conseguem manter uma conversação...



O livro fala de amor, vida, sonhos, amizade, orgulho e tantos outros sentimentos que seriam impossíveis de serem enumerados. Ele é ao mesmo tempo vida e morte, alegria e tristeza, dualidade de sentidos intercalando-se na trama supostamente infantil...
E sem dúvida um dos meus trechos favoritos é o capítulo XXI:

"E foi então que apareceu a raposa:

-Bom dia, disse a raposa.
-Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou mas não viu nada.
-Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

-Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita.
-Sou uma raposa, disse a raposa.
-Vem brincar comigo, propôs o príncipe, estou tão triste...

-Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
-Ah! Desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

-O que quer dizer "cativar"?
-Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
-Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
-É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços"...
-Criar laços?
-Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...

Mas a raposa voltou a sua idéia:
-Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.
Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro.
E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado.
O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti.
E eu amarei o barulho do vento do trigo...


A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
-Bem quisera, disse o príncipe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
-A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma.
Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!

- Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."


Estou ouvindo Metallica (London Symphony Orchestra) - Nothing Else Matters.
 
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